POEMAR?
Isaac Starosta
Fazer poemas?
Mas pra quê se todas as coisas
estão quietas nos lugares certos
sem qualquer inquietação maior?!
Fazer poemas? Pra quê?
Se já existem tantos e os poemas
até hoje não conseguiram o milagre
de uma criança brincando
de um casal namorando ao sol
de uma bola entrando mansamente em gol!
Pra quê poemas
se esses monstros sutilíssimos jazem
empoeirados num canto da memória
sem nunca se saber quando como e para quem
um dia surgirão?!
Pra quê, se um deles agorinha por aqui passou
e eu, distraído, caneta na mão, procurando o poema,
não acertei na sua direção?!
A poesia passa depressa, não pensa
na dor da saudade que vai deixar.
A poesia é o momento que passa
e até se contenta em ser
constantemente o que não é.