EU DIRIA PÁRA
Se fosse possível,
eu diria pára.
Mas nada detém o mundo.
Nem um coração que pára.
QUERO MORRER LENTAMENTE
Quero morrer lentamente
Como enfim se completa o silêncio após a música
Como acabam os dias mudamente aterrados
Como somem as ondas num afago final à praia
inconquistável
Quero morrer lentamente
Com o secreto adeus do beijo que mal roça nos lábios
Com a austeridade das rosas até a corrupção
Com este tremor do nada que em certos instantes corre
pela espinha da Via-Láctea
Quero morrer lentamente
Como se apaga o eco nas montanhas
Como as nuvens se esgarçam e se extinguem
Como o velho cavalo já não se levanta
Quero um silêncio maior que o da morte
O silêncio do fundo do mar
Do coração da terra
Do espaço entre os astros
Quero afundar no silêncio
No silêncio
No silêncio
No silêncio.
- em "Perder a vida", 1985, ed.Tchê!
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