domingo, 26 de agosto de 2007

Varal Virtual - Miguel Oscar Menassa

A POESIA

NÃO SE ENAMORA NUNCA


a meus filhos, discípulos e afins


Não me façais correr vossas carreiras

nem me façais voar em vossos vôos

nem me façais fazer vossos trabalhos

nem, tampouco, amar vossos amores.

Eu, filhos meus, com paixão,

os transportei voando,

sempre, a vosso lado,

desde os confins quietos da família

até as portas em liberdade do mundo.

Agora começa vossa viagem

e, se os deixo partir sem acompanhá-los,

é porque eu tenho minha própria viagem.

Devo pôr, no caminho que construí

com minha própria vida e escrevendo,

meu nome, meu sobrenome, minhas marcas,

meus sinais pessoais, que são a poesia.

No caminho encontrareis o ouro e a pobreza,

os precipícios fundos e as grandes planícies.

Haverá em vossos caminhos, não duvideis,

emboscadas, traições, vis injustiças,

por isso

é conveniente viajar acompanhado.

E, quando consigais algo de pão, algo de dinheiro,

tentai reparti-lo o melhor possível entre todos.

Alguém que comeu

e tem dinheiro para o pão de amanhã,

em algo se sentirá feliz e seu trabalho

não será dirigido pela fome ou pelo ódio

senão pelo amor ou pela liberdade.



E este é o verso onde tentarei

deixar-lhes o ensinamento mais necessário:

Numa sociedade justa, o trabalho é um dom:

uma alegria, um bem, humano propriamente,

com o qual se pode modificar o natural,

a vida, os enxames de sonhos, o sol.

Com o trabalho,

o homem pode voar sem asas,

navegar pelos mares sem conhecer o mar.

Da árvore,

estupefato de surpresa ante o homem

pode o trabalho arrancar uma cadeira

e, da pedra, os sinais

que forjam o porvir do homem,

sua casa,

seus monumentos,

sua própria lápide.



MIGUEL OSCAR MENASSA


Grupo Cero


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