quinta-feira, 23 de agosto de 2007

VARAL VIRTUAL - MARCUS MINUZZI

O amor e o rei amado enquanto mito


Dora domestica o dono do poema-imperialista.

Todo sonho porta sonos poderosos e arranjos alvo de procuras.
Dardos doutos de mistério denunciam a poesia ornadora, bendita,
Pronunciada ao tom de símbolos sonhantes.
O recurso geral à cobra geradora da glosa do povo.
Vontade do mundo: o devir utópico,
A verdade enquanto mentira,
E o amor e o rei amado enquanto mito.
O roçar-se da dinastia de padres bentos e paus batistas
Com a serena bravura do gozo
Constrói a nação casta e pura.
O dom da deusa é dormir com compridíssimos cabelos
E também música.
Os pêlos de Dora dominam os ventos.
A verdade é que Deus será olvidado pelos séculos.
O domínio do esquecimento arderá em nosso espírito.
O preto gosta de alento e carnaval.
O gesto olímpico cegará o laço onírico.
A hora definitiva amanhecerá ornada por reses restabelecidas do abate.


O lado maloqueiro de Porto Alegre

(Para Zé da Terreira)

Os homens olham o coito.
Há negros loucos, neguinhos vadios,
Queridos e netos do estrume benfazejo.
Ah, noite divina, raiz do mato, reggea outro,
Negra luz sobre o povo enigmático
Das encruzilhadas de Porto Alegre
E dos nus arrancados astrologicamente.
Há sacis bebês ativos
Nos galos latinos
Desta ardente povoação que eu pinto.
O povo gosta da grossa, macia e escura coxa.
O crescente perdão do pai
Enquanto a mata rejuvenesce.
O ar divino e redentor.
O lado maloqueiro de Porto Alegre
É moleque e dono de uma paixão silvícola:
A natalidade homenageia o lúbrico amor
De uma gente arteira:
Os neguinhos que fazem "bolo" na esquina.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Marcus,
Teu poema me lembrou um poema que estive lendo esta semana de Nâzim Hikmet: TODO LO QUE HE ESCRITO SOBRE NOSOTROS ES MENTIRA...

Todo lo que he escrito sobre nosotros es mentira
No es lo que fue sino lo que yo quise
mis nostalgias detenidas en inalcanzables ramas
mi sed extraída del pozo de mis sueños
bocetos alumbrados.

Todo lo que he escrito sobre nosotros es verdad
tu belleza
o sea una cesta de frutas una mesa en el campo
cuando me faltas tú
o sea cuando me convierto en la última farola de la calle
del último rincón de la ciudad
cuando tengo celos de ti
o sea cuando corro de noche entre los trenes con los ojos vendados
mi felicidad
o sea río soleado que rompe sus diques.
Todo lo que he escrito sobre nosotros es mentira
todo lo que he escrito sobre nosotros es verdad.

Leipzig, 30 de septiembre de 1960

De "Últimos poemas 1959-1960-1961"
Versión de Fernando García Burillo
(Ediciones del oriente y del mediterráneo -Madrid 2000)
saudações poéticas,
Lúcia Bins Ely - GRUPO CERO